Soteropobretanos, uni-vos!!

Houve um tempo em que você ia sair com os amigos, pedia dinheiro a seu pai, ele lhe dava 10 reais e você se sentia milionário. Houve um tempo em que o ingresso do cinema, o Cheeseburger da Mc, e a passagem do ônibus cabiam perfeitamente no seu orçamento, e se bobear ainda sobrava dinheiro pra comprar 1 real de Big-Big.
Aí você cresceu, Salvador cresceu, o tempo passou, e o mundo hoje parece hostil demais para o seu bolso. Hoje você quer sair numa sexta-feira à noite, e lá e vão 15 reais (no mínimo) só pra entrar num Bar qualquer, pra ouvir um cantor qualquer que você nunca ouviu falar, e mais 15 por uma porção de bolinhos de queijo microsópicos, e mais 10 por uma cerveja quente. Hoje você quer ver um filme 3D, e a inteira no fim de semana é 28 reais, o Mc cobra preço de restaurante, e nem o Baratíssimo da Subway parece tão barato assim.
Pois é, amigo, você ficou pobre. Mas nada tema, pois este guia irá ajudá-lo a contornar essa situação de miserabilidade absoluta, com dicas e conselhos pra você economizar o seu suado dinheirinho em meio a essa Salvador de gente alto-astral, bonita e selecionada. Boa sorte!

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Ganhei na Loteria. E agora?

Pobre não vale nada. Vive reclamando que não tem dinheiro, deixa as crianças comendo cream cracker porque não tem 1 real pra comprar pão, mas todo fim de semana tá fazendo uma ‘fézinha’ na casa lotérica da esquina. Ele sabe que as chances de acertar as dezenas da mega-sena são mínimas. Ele sabe que enquanto está fazendo UM único jogo, amigos ricos fazem bolão com 500 jogos e Thor Batista compra 96.285 sequências (com metade do dinheiro da mesada). Mas ainda assim, o pobre, que não vale nada, sai da casa lotérica crente e abafando que já é milionário. Eu sei disso, porque EU sou assim.
E aí o pobre chega em casa, manda a mulher botar mais água no feijão e diz que a família precisa comemorar. A esposa não entende e o marido – aquele traste que poderia ter trazido pão – mostra o bilhete da mega-sena. ‘Vai ser dessa vez, mulher!!’, ele afirma, convicto. ‘A gente vai sair desse barraco, e graças a esse bilhete premiado aqui!’. A mulher, que também não vale nada, a princípio briga, diz que deveria ter escutado a mãe e nunca se casado com aquele encosto, mas aos poucos cede aos encantos daquelas seis dezenas no papel. ‘E se for a nossa vez?’ ela pensa. ‘E se eu for a próxima Griselda Pereirão?’, sorri, confiante. ‘Vou embora de uma vez por todas desse bairro, vou morar num condomínio, ter empregada doméstica, viajar de avião, almoçar fora, ai meu Deus é esse bilhete! É esse! Estamos ricos!’.
Tadinhos. Aí chega o dia do sorteio, eles reúnem os amigos em casa, os parentes do interior, abrem a garrafa de São Jorge e ficam só esperando a confirmação do que já sabiam – que estavam milionários. Mas óbvio que no final das contas quem acaba ganhando são aqueles amigos ricos que fizeram o bolão, ou Thor Batista, que nem precisa desse dinheiro, mas quer mandar fazer um clone seu para ir preso em seu lugar quando atropelar pessoas desatentas.
Mas vamos supor que eu esteja apenas sendo pessimista. O pobre também pode ganhar na loteria, por que não? Por isso, hoje o Guia vai ser dedicado para você, miserável de pai e mãe, e que perde dinheiro mas não perde a esperança. O que fazer caso, por uma eventualidade do destino, você seja o próximo milionário de Salvador? Aqui vão algumas dicas para você aplicar bem a bufunfa, se adequar ao estilo de vida da Casa-Grande soteropolitana – sem denunciar a origem na Senzala – e de quebra, quem sabe, aparecer na coluna social de July, do Jornal A Tarde, que você até hoje não sabe para que serve.

1 – Escolhendo o bairro onde morar: Vitória, Horto ou Itaigara?

O pobre se deslumbra fácil e não sabe pra onde ir com aquela dinheirada toda. O primeiro passo é arrumar um teto.
Você se arruma, vai na imobiliária e o corretor com cara de paisagem tenta te empurrar um apartamento num condomínio em Alphaville, com 50 piscinas, varanda gourmet, salão de jogos, salão fitness, salão de beleza, spa e supermercado. Não aceite. A última coisa que você quer é dar a impressão que é algum emergente que ficou rico recentemente, e é justamente essa a impressão que a aristocracia de Salvador tem sobre quem mora na Paralela. Então descarte essa possibilidade.
O Itaigara deve ser a sua opção inicial. Bairro familiar, com várias opções de lazer e gastronomia, escolas para matricular os rebentos e o maior Índice de Desenvolvimento Humano da cidade (0,971, superior inclusive ao IDH da Noruega).
A segunda opção é o Horto Florestal, que você nunca foi, mas que certamente já ouviu alguma amiga empregada doméstica reclamando do quanto sofre caminhando para chegar no trabalho, já que no Horto não passa ônibus. Um bairro de riqueza, arranha-céus e mansões de luxo, cercada pelo Engenho Velho da Federação, Nordeste de Amaralina e Engenho Velho de Brotas. Praticamente um feudo.
Mas a opção com a qual todos sonham, é claro, é o Corredor da Vitória. De longe, o metro quadrado residencial mais caro de Salvador (R$12.000,00/m², em alguns apês), a rua mais arborizada, vista definida e 180º para a Baía de Todos os Santos e um píer lá embaixo para você chamar de seu, enquanto seus amigos se estapeiam por 30 cm de areia no Porto da Barra. Na Vitória, o apartamento mais caro da cidade não está no Edf. Morada dos Cardeais (vulgo ‘o prédio de Ivete’), como muita gente pensa, mas no Edf. Margarida Costa Pinto, onde um puxadinho chega a custar a bagatela de R$8.000.000,00. Quase o PIB de um país da África.

2 – Mobiliando o apartamento: Alameda das Espatódeas

Diga adeus às Casas Bahia, à Ricardo Eletro e à Insinuante. O luxo em Salvador tem endereço e atende pelo nome de Alameda das Espatódeas, no Caminho das Árvores. Aquela rua que você só sabe que existe porque seu ônibus passa por lá antes de chegar na Av. Paulo VI.
São as vitrines mais bonitas de Salvador, onde você vai poder comprar seus móveis com sossego, atendimento personalizado, e adquirir objetos únicos, como vasos da dinastia Ming, que você nem sabe para que servem, mas que precisa ter em casa para receber as visitas.
VOCÊ SABIA? No Natal, as lojas promovem uma confraternização muito bonita, com decoração escandinava, papai Noel, duendes e champagne. Mas como você nunca será convidado, sugiro que comece a parcelar sua viagem para a excursão Natal Luz de Gramado desde já.

3 – Almoçando fora: Chez Bernard

Você é daqueles que conta os dias do ano para chegar a Restaurant Week e poder comer nos restaurantes mais caros de Salvador por preço de banana, né?
Mas o Chez Bernard, meu amigo, não participa dessa festa da uva da classe média. Com vista infinita para a Baía e talvez o cardápio mais caro da cidade, a conta do seu almoço já vai começar com três dígitos e a partir daí, o céu é o limite. Aqui só entra rico e ponto.
Na adega do Chez descansam mais de 200 rótulos diferentes de vinhos, incluindo uma seleção especial de exemplares nobres que chegam a custar R$31.500,00, como a garrafa do francês Domaine Romanée-Conti 1990. Quanto aos pratos, um dos mais famosos é o pato ao molho roti, na faixa dos 90 reais, que é cozinhado por três dias, resfriado a uma temperatura próxima do 0 Kelvin, e assado novamente, em banho-maria, com água proveniente do degelo do Himalaia. O pato é coisa fina, e com o perdão do trocadilho, não é para o seu bico.

4 – Opções de Lazer: #partiuPraiadoForte

Chega de levar o isopor e a farofa para a Praia da Ribeira. O rico em Salvador, quando o céu está azul e o Sol a pino, só tem três opções: pegar a lancha no Bahia Marina para dar uma volta pela Baía, tomar uns drinks no Yacht Club, ou se misturar com a classe média - que pensa que é rica - em Praia do Forte. Porto da Barra, nunca mais.
Também chamada de ‘Polinésia Brasileira’ (que exagero, hein?) pelos pesquisadores, que destacam a diversidade do ecossistema marinho, nossa Praia do Forte, a pouco mais de 50Km de Salvador, é o refúgio para os milionários da cidade que ainda não têm dinheiro para comprar a sua própria ilha. Apelidada carinhosamente de ‘A Búzios do Nordeste’, é cheia de resorts, lojas caríssimas, restaurantes badalados e aquela sensação de se sentir turista a poucos quilômetros de casa. De quebra, uma das melhores sedes do Projeto Tamar do País, e passeios de ecoturismo na Reserva da Sapiranga.

5 – Fazendo compras: Alameda das Grifes do Iguatemi

Quando o Salvador Shopping foi inaugurado, muita gente se surpreendeu. ‘Loucura’, pensaram alguns. ‘Um shopping desse nível aqui nessa cidade, não vai ter futuro nenhum, não vai ter público, e ninguém vai ter dinheiro para comprar ali’.
De fato, o ano era 2007, e Salvador só conhecia o Iguatemi (o Barra não conta, já que atende basicamente à demanda dos moradores da Zona Sul) como grande centro de compras da cidade. Aí veio o Grupo Paes Mendonça, e com o conceito importado dos shoppings de Miami, presenteou a cidade com o Salvador Shopping, naquele que foi, talvez, o maior empreendimento da iniciativa privada da década passada na Capital baiana. O Salvador Shopping não foi só um sucesso instantâneo, como foi duplicado no ano seguinte, vindo a se tornar o 3º maior Shopping do Brasil em área construída (atrás apenas do Shopping Aricanduva, em São Paulo, e do Shopping Dom Pedro, em Campinas). A propósito: #chupaRecife!!!
E aí começaram a dizer que o Iguatemi estaria condenado. Que não tinha cabimento dois centros comerciais tão próximos um do outro, que o Salvador Shopping era muito mais bonito, que ninguém ia querer saber mais do Iguatemi e ele ia fechar as portas. Ledo engano. O Iguatemi não só manteve o posto de shopping mais movimentado da cidade (em parte, graças à proximidade com a Rodoviária e o fácil acesso por transporte público), como se reinventou e continuou apresentando o metro quadrado comercial mais caro de Salvador: a Alameda das Grifes.
Você provavelmente nunca passou por lá, já que só anda no 1º piso. Basicamente, é o corredor mais amplo e mais bonito do Iguatz, onde no inverno o ar condicionado é reduzido a próximo de 15 graus para que as madames possam passear de echarpe e casacos de pele sem suar feito cuscuz. Apresenta lojas como a Zara (que na Europa, é marca de pobre), Richards, Adidas, Osklen, Lacoste e a Carlos Miele, onde os preços na vitrine alcançam as cifras de R$ 5.000,00. No meio do caminho, o Pereira Café para você descansar as sacolas das compras, ou o Outback Steakhouse para tomar um chopp, se estiver na hora do happy hour.
Enfim, é isso. Espero que esse Guia tenha ajudado, para o caso de você ganhar na loteria nos próximos meses, ou quem sabe, nessa semana, e não souber o que fazer com o prêmio. Guarde as informações, compartilhe com os amigos, imprima e faça diferente de Nina/Rita: salve num pen-drive.