Soteropobretanos, uni-vos!!

Houve um tempo em que você ia sair com os amigos, pedia dinheiro a seu pai, ele lhe dava 10 reais e você se sentia milionário. Houve um tempo em que o ingresso do cinema, o Cheeseburger da Mc, e a passagem do ônibus cabiam perfeitamente no seu orçamento, e se bobear ainda sobrava dinheiro pra comprar 1 real de Big-Big.
Aí você cresceu, Salvador cresceu, o tempo passou, e o mundo hoje parece hostil demais para o seu bolso. Hoje você quer sair numa sexta-feira à noite, e lá e vão 15 reais (no mínimo) só pra entrar num Bar qualquer, pra ouvir um cantor qualquer que você nunca ouviu falar, e mais 15 por uma porção de bolinhos de queijo microsópicos, e mais 10 por uma cerveja quente. Hoje você quer ver um filme 3D, e a inteira no fim de semana é 28 reais, o Mc cobra preço de restaurante, e nem o Baratíssimo da Subway parece tão barato assim.
Pois é, amigo, você ficou pobre. Mas nada tema, pois este guia irá ajudá-lo a contornar essa situação de miserabilidade absoluta, com dicas e conselhos pra você economizar o seu suado dinheirinho em meio a essa Salvador de gente alto-astral, bonita e selecionada. Boa sorte!

segunda-feira, 12 de março de 2012

Andando de Ônibus em Salvador

- Cobrador, passa em Cajazeiras VI?
- Não.
- E em Cajazeiras VIII?
- Também não.
- E em Cajazeiras XI?
- Não passa em nenhuma Cajazeiras, meu filho, esse aqui é o Campo Grande R1, vai pro Rio Vermelho, Federação, Canela...
- Ah, então não passa em Cajazeiras?
- NÃO!
- Ah, então pede pro motorista parar no próximo ponto que eu vou descer!

Pronto. Um simples diálogo como esse, e você já garantiu uma viagem de ônibus sem pagar passagem. O método é simples, mas exige um certo conhecimento do itinerário das linhas de ônibus da cidade.
Sabe quando você tem que ir ali na padaria da esquina, que não é tão perto, mas também não é tão longe, e tá com uma preguiça retada de ir andando? Então, é pra isso que serve a dica de hoje. “Ah, Iuri, então você está dizendo pra eu sair por aí traseirando no busú de Paripe até Itapuã, né?” Não, não é isso, tudo tem limite. Vá para o ponto de ônibus mais próximo da sua casa, suba no veículo, e puxe um papo legal com o cobrador enquanto aquela padaria da esquina se aproxima e você economiza uma paletada com essa sua canela de pobre. Quando estiver na hora de descer, pergunte qualquer coisa estapafúrdia (ex.: Se o ônibus de Praia do Flamengo passa na Mata Escura), peça pra descer e seja feliz.
A distância a percorrer é mais longa? Aí não tem jeito, você vai ter que pagar a passagem, de preferência com o Salvador Card, e ter uma das maiores aventuras da sua vida de soteropobretano: andar de ônibus em Salvador.
ABRE PARÊNTESES - Tenha medo, muito medo, dos ônibus com ar condicionado. São mais caros, não aceitam Salvador Card, e além de tudo, são os mais assaltados da cidade, pela grande circulação de dinheiro, pela ausência de cobrador, e também por que como os vidros são todos escuros, ninguém da rua percebe o putetê que está havendo lá dentro – FECHA PARÊNTESES.
O primeiro passo é escolher o lugar para se sentar (na remota possibilidade de HAVER um lugar). Procure ficar sempre na janela, menos pelo vento (quase inexistente nesse calor insuportável) e mais pra evitar o roça-roça dos passageiros que ficam em pé. Acredite, você não vai querer nenhum objeto-não- identificado fazendo “carinho” no seu ombro. Se não tiver jeito, vá em pé mesmo, certifique-se de colocar a mochila/bolsa sempre na frente do corpo e fique batendo com ela propositalmente na cabeça do passageiro que estiver sentado. Uma hora ele irá se sensibilizar e vai se oferecer pra segurar a mochila pra você. Ah, na hora de escolher o lugar pra ficar em pé também, você precisa de sagacidade! Nada de ir para o fundo do ônibus – quem senta lá, geralmente, só vai descer no fim da linha, nem muito na frente, onde estão os velhinhos conversadores que falam mais que a nega do leite. A idéia é ficar de olho nos passageiros sentados e imaginar em que ponto de ônibus vão descer, principalmente estudantes (ex: uma criatura com a farda do Colégio Integral, em geral, tende a descer do ônibus no ponto do Colégio Integral), ou funcionárias de terno, que são na maioria das vezes secretárias/recepcionistas dos Centros Médicos/Empresariais da região do Itaigara/Iguatemi/Tancredo Neves.
Achou um lugar pra sentar? Perfeito. Tire o seu mp4 da mochila, coloque o fone no ouvido e curta a paisagem, se o ônibus for pela orla, ou não curta, se for pela Bonocô. “Ah, Iuri, por que eu tenho que usar fone de ouvido, se um cara lá no fundo do ônibus coloca em alto-falante pra todo mundo escutar o pagode dele?” Muito simples. Por que todo mundo pode até se incomodar com aquele cara que coloca o pagodão nas alturas e se acha o Dj do busú, mas ninguém vai lá dizer uma palavra a ele, porque todos tem amor à sua própria vida. Agora você, com essa sua cara de menino criado no playground da Pituba, se fizer o mesmo, no mínimo será amarrado pelos passageiros, acorrentado no pneu do ônibus e terá o corpo arrastado pela Avenida Paralela. Fique na sua e ouça seu negócio quieto, que ninguém te bole.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Vá em Dinha, mas não necessariamente para comer Acarajé

A sexta-feira chegou e você mal consegue comemorar direito, porque não tem um tostão pra comprar nem um geladinho na quitanda da esquina. O que fazer? Passar a madrugada no Facebook? Nada disso, basta ligar pra um amigo pedindo carona e se mandar para o lugar mais democrático da noite soteropobretana: o Largo do Acarajé de Dinha.

Aí você me pergunta: "Mas como assim, o Acarajé de Dinha? Lá é muito caro!!". E eu respondo: Sim, caro amigo, o acarajé da baiana mais famosa da cidade não custa pouco. Mas quem disse que você precisa comer pra se divertir? Seja esperto, tome seu café em casa, se entupa de pão de milho, broa, pão de sal, inhame, aipim, batata doce, banana da terra e cuscuz e saia com o bucho cheio pra aguentar a fome madrugada adentro. Chegando no Largo, você tem três opções:

1 - Ficar em pé na frente da igreja com a galera alternativa;

2 - Chegar junto de algum carro com o porta-malas aberto e cair na bagaceira do pagodão;

3 - Sentar numa das mesas de plástico e contar os minutos antes que o garçom perceba que você não vai consumir nada e te expulse a socos e pontapés. Aliás, quando eu digo "consumir" eu quero dizer no mínimo umas 4 cervejas, viu? Porque eu já estive lá uma vez, pedi só um copinho de água mineral e o garçom me tirou da mesa dizendo que eu podia beber água em pé. Sério.

O que você, na condição de soteropobretano, nunca, jamais, em hipótese alguma, e sob nenhuma ciscunstância deve fazer é se render aos encantos dos barzinhos que ficam AO REDOR do Largo de Dinha. Acredite, você vai pagar caro, muito caro, vai pegar uma fila desgraçada pra entrar, vai ter um cantor fuleiríssimo dizendo que canta MPB mas que você sabe no fundo que é Seresta/Arrocha, e no final, vai ter gasto 100 reais e vai continuar morrendo de fome e tão sóbrio quanto um monge beneditino. Se você quer uma experiência antropológica de verdade, onde misteriosamente mauricinhos, pagodeiros, alternativos, e roqueiros de Salvador dividem o mesmo espaço, então o Largo de Dinha é o seu lugar.