Abrir uma lata de leite condensado,
colocar duas colheres de Nescau, misturar tudo numa panela e levar para o
fogão. E pouco tempo depois está pronta uma das maiores alegrias da vida do
pobre – o brigadeiro. Se você também já teve que encarar aquele almoço terrível
com as sobras do ensopado de domingo e depois viu seu corpo clamar e implorar
por açúcar sabe do que eu estou falando. Basta seguir a fórmula do brigadeiro,
e como num passe de mágica, todos os seus sonhos viram realidade e você nem
consegue mais se lembrar daquele pavoroso sabor de lombo assado que estava na
sua boca.
(Aliás, LOMBO é uma das coisas mais
horríveis que já inventaram, mas isso fica pra outro post).
Mas como já disse alguém muito sábio, “nem
só de pão – e brigadeiro – viverá o homem”, e você, como filho de Deus, também
tem o direito de comer as coisas boas que o povo cria por aí, ou de levar sua
namorada para um programa diferente do P.F. no Restaurante Popular do Comércio
(até por que ele pegou fogo recentemente). Por isso resolvi listar 5 lugares (e
iguarias) dessa nossa cidade que cada dia melhora (só que não) pra você fugir
da rotina, aumentar o nível de glicose no sangue, fazer bonito pra patroa e o
melhor de tudo – por um preço que cabe perfeitamente na sua renda de salário
mínimo ou pior, de estagiário.
1 – Crepe “Ponta de Humaitá” no Solar
Café
Todo mundo já conhece o Museu de Arte
Moderna da Bahia – na minha opinião, um dos mais bonitos do Brasil. Programinha
típico de gente alternativa e do broder que quer impressionar a piveta gastando
pouco – curtir o pôr do Sol sobre a Baía de Todos é muito romântico, e ainda é
de graça – passar uma tarde no MAM é um passeio obrigatório para turistas e
para você que está estressado e acha que distração é ficar em casa batendo papo
na Internet.
O Museu fica num casarão do século XVII,
e em 1969 foi restaurado e transformado em espaço cultural por ninguém menos
que Lina Bo Bardi (a mesma que idealizou o prédio espetacular do Museu de Arte
de São Paulo). Dentro do lugar, escondido no final de um corredor subterrâneo
que provavelmente levava a alguma senzala, fica o Solar Café, um dos lugares
mais sensacionais de Salvador, com comida de qualidade, vista incrível para a
Baía e gente simpática e com cara de rica.
Mas falando especificamente das
guloseimas, como você é pobre de pai, mãe, avó, padrasto e madrasta, pode abrir
o cardápio e ir direto para a seção de sobremesas. Todas são deliciosas, mas
pra mim nada supera o crepe “Ponta de Humaitá” (quase todos os pratos têm nome
de bairro, então sinta-se à vontade pra comer o Rio Vermelho e se vingar de
todos os engarrafamentos que você já pegou na sua vida). Basicamente é um crepe
de chocolate (ao leite, meio amargo, ou branco, você escolhe), com uma bola de
sorvete. Simples, eu sei, mas muito, muito, muito gostoso.
2 – Petit Gateau no Café Terrasse
O Café Terrasse fica na Aliança Francesa
da Ladeira da Barra. Pense num lugar bonito, com preços altamente convidativos,
uma atmosfera Cult que remete a um filme de Woody Allen, clientes franceses,
alemães e peruas desocupadas, e uma vista panorâmica para o Yacht Club e a
Igreja de Sto. Antônio da Barra. Tem crepe, torta, brownie, sorvete, suco, e o
melhor de tudo, o petit gateau.
Tente chegar no final da tarde, escolha
a mesa do canto, sob a sombra da mangueira e curta seu momento Jack e Rose com
sua nega. Se ela ainda não tiver se apaixonado por você, depois dessa, vai
pedir pra casar.
A Sorveteria da Ribeira dispensa
comentários. Considerada a melhor sorveteria da cidade – para muitos, um título
sem fundamento – o lugar já valeria a visita de domingo, ainda que o sorvete
fosse horrível.
Presente
em 10 entre 10 livros de viagem sobre Salvador. Parada obrigatória de todo
turista que chega à cidade. Filas quilométricas às 17h. Gritaria, criança
chorando, atendimento péssimo, gente se acotovelando no balcão pra conseguir
fazer o pedido. Mas um sofrimento que vale a pena. Se você é menino amarelo criado
pela vó e só sabe tomar sorvete de chocolate, vá no Bompreço e compre um pote
da Kibon. A Sorveteria da Ribeira é para paladares criativos e que não têm medo
de experimentar sabores únicos no mercado, como o de Tapioca, de Pitanga e de Coco
Verde.
E
se esses sabores parecem diferentes demais pra você, acostumado à promoção de
duas casquinhas por 2 reais do McDonalds do Center Lapa, fique com o Sonho de
Valsa. Um sorvete tão bom que ainda nem inventaram adjetivo para descrevê-lo. E
para completar o programa, atravesse a rua com a patroa e sente na balaustrada
com vista para a Enseada dos Tainheiros. Muito melhor do que dividir uma torta
da Doces Sonhos na praça de alimentação do Salvador Shopping.
Uma
água mineral. Uma empada. Um café. Uma pizza. Uma fatia de torta. Qualquer
coisa – qualquer coisa MESMO – vale a pena na sua visita ao Cafelier, o lugar
em que Salvador vira Paris.
Localizado
num casarão num dos bairros mais charmosos da cidade, o Santo Antonio Além do
Carmo, a decoração é totalmente de um café tipicamente francês. Móveis antigos,
livros espalhados, quadros, discos de vinil, e aquela bagunça organizada que
torna tudo ainda mais atraente. E na varanda, vista definida para a Baía de
Todos os Santos.
Importante
destacar: tirando os casarões históricos e as ruas de paralelepípedo, o Santo
Antônio Além do Carmo é um bairro TOTALMENTE DIFERENTE do Pelourinho! Não espere
encontrar gente vendendo fitinha do Bonfim, roda de capoeira no meio da rua,
garoto tocando berimbau e baiana de acarajé com sorriso mais falso que nota de
3 reais. Graças a Deus.
5
– Torta de Mil Folhas na Abuela Goye
A
Abuela Goye é uma rede de doces, cafés, tortas, sorvetes e outras gordices lá
da Argentina. Faz o maior sucesso por lá e pasmem – ninguém havia pensado em
abrir uma filial aqui no Brasil.
Aí
um estudante de Administração da UFBA fez um intercâmbio lá pela Patagônia, se
apaixonou pelos quitutes, e vejam só, resolveu abrir uma loja no meu, no seu,
no nosso....Salvador Shopping!! (quando eu falei “nosso” você pensou no
Piedade, admita), transformando a capital da Bahia na primeira cidade do Brasil
a contar com uma filial da franquia – pausa para gritar “CHUPA, SÃO PAULO!”.
Como
todos os produtos são IMPORTADOS e chegam a Salvador de navio, os preços são (meio)
um pouco (muito) caros, mas nada que vá te levar à falência. E entre o alfajor,
os doces dos mais diversos, os sorvetes, e chocolates, a coisa que vai fazer
seu coração parar e te levar pro céu da gulodice é a torta Mil Folhas, recheada
com doce de leite. Um negócio tão gostoso que parece até que é de mentira. E
antes que você passe na quitanda do seu Zé, compre aquele doce de leite de
Itaberaba e tente fazer a torta em casa, desista. O doce de leite da Abuela
Goye é produzido através das vacas criadas na Patagônia, alimentadas com
sabe-Deus-o-quê e um sabor que não se compara a nada fabricado por aqui.